À infanta de Aragão e Catalunha, Dulce de Barcelona, teve por esposa, e com ela uma prole de onze filhos e filhas. Desses valem menção três de suas filhas, Dona Mafalda, Dona Sancha e Dona Teresa que se tornaram freiras, e por suas vidas fizeram-se beatas. O Rei não era, no entanto, tão santo, teve outros tantos filhos bastardos. Seis desses filhos ilegítimos teve com Dona Maria Pais Ribeiro, conhecida como a “Ribeirinha”.
O texto que agora apresento, escrito pelo poeta trovador Paio Soares de Taveirós, é dito ter por inspiração a Ribeirinha, e por muito foi considerado o texto literário mais antigo que se tem registro em língua portuguesa. Muitos dizem datar de 1189 ou 1198, mas parece já provar-se ter sido escrito apenas no início do século XIII, não sendo mais o mais antigo. Sendo d’antes ou depois, ter por tanto tempo sido, pois, o texto mais antigo de nossa língua-mãe, trago-o por sua importância histórica de hoje ou de outrora. Devido ao arcaísmo da escrita do chamado galego-português, trago também notas a desvendar o dito. Eis, por fim, a “Cantiga de Guarvaya” ou “Cantiga Ribeirinha”:
"No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me uay
ca ia moiro por uos e ay!
mha senhor branca e uermelha,
queredes que uos retraya
quando uos eu ui en saya!
Mao dia me leuantei,
que uos enton non ui fea!
E, mha senhor, des aquel di' ay!
me foi a mi muyn mal,
e uos, filha de don Paay
Moniz, e ben uus semelha
d' auer eu por uos guaruaya
pois eu, mha senhor, d' alfaya
nunca de uos ouue nem ei
ualia d' üa correa."
(por limitações técnicas é posto ü ao invés de u com til)
[VOCABULÁRIO: parelha = semelhante, igual; mentre = enquanto, entrementes; ca = pois, porque; moiro = morro; senhor = senhor(a); queredes = quereis; retraya = retrate, evoque; que uos enton non ui fea = que então vos vi linda (por litote); mi = mim; semelha = parece; guaruaya = manto escarlate próprio dos reis.]
Por
Gustavo V. de Andrade
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