quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O MUNDO DOS ESPÍRITOS - Anjos e Demônios ( III )

CAPÍTULO I
O MUNDO DOS ESPÍRITOS

II – A natureza angélica

Peçamos aos anjos, essas criaturas mais inefáveis que o vento, mais fulgurantes que o relâmpago, que se ponham um instante diante de nós, para que possamos apreender algo de sua aparência deslumbrante.

Existem três tipos de espírito: o espírito humano, o espírito angélico e o espírito divino criador de todas as coisas. Esses espíritos se movem em três esferas que podemos chamar concêntricas. A primeira esfera, cujo raio é o mais curto, é a da inteligência humana. A segunda, que envolve a primeira, incomparavelmente maior e mais elevada, é a aquela habita e preenchida pela natureza angélica. Por fim, a terceira, contendo as outras duas e de dimensão infinita, é a esfera de luminosidade inacessível, lugar próprio de Deus Criador, da Santíssima Trindade.
O conhecimento do homem, por si mesmo, confinado na esfera em que habita. Tem por seu terreno próprio às coisas humanas. Não que não possa elevar-se além da razão; mas não possui a visão clara e nítida do mundo dos espíritos. Quando procura formular uma idéia, imagens de coisas sensíveis vêm interpor-se entre os olhos da alma e os objetos puramente espirituais; e os distinguem muito confusamente, como se visse um objeto distante através de uma barreira pouco translúcida. Em poucas palavras, para conhecer a Deus perfeitamente, seria preciso ser o próprio Deus; para conhecer aos anjos perfeitamente, seria preciso ser um anjo. O homem que desejar penetrar nos segredos da natureza angélica, ficará sempre aquém da verdade. Ele será como um astrônomo que explora os espaços de luz onde se movem os astros. Poderia orgulhar-se de ter um conhecimento absolutamente exato? De forma alguma. São tais contemplações estéreis, tais observações inúteis? Seria errado de assim o pensar.

De toda forma, apesar da imperfeição que, a priori, nos detém na investigação a respeito dos anjos, elas não deixam de serem frutíferas e dulcíssimas.
Ao reduzirmos o anjo a um tamanho quase humano, descobrimos nele o reflexo de uma beleza ideal, que vem diretamente de Deus, Daquele que São Gregório de Nazianzo de primeira Luz, de primeiro Esplendor: “Os anjos, disse o santo, são como um fluxo, um riacho da primeira Luz; são os segundos esplendores, ao serviço do primeiro Esplendor”.

O anjo é um puro espírito, eis sua definição.
Ele não é composto de duas substâncias associadas em uma unidade de natureza como nós. Deus não o fez, segundo a enfática expressão de São Gregório Magno, uma mistura inexplicável de espírito e lama: investigabili dispositione miscuit spiritum et lutum. Se ele não possui um corpo material e pesado, tem então um corpo sutil e etéreo, um corpo fluído e imponderável. É uma substância espiritual pura, que não admite mistura com elementos corporais, mesmo o mais intocável.
Alguns Padres cogitaram que os anjos possuíam corpo, mas, de toda forma, um corpo fluído e luminoso. Talvez suas expressões tenham sido tomadas muito literalmente. Eles pareciam reservar a Deus, e a Deus somente, a qualificação de espírito puro. Para eles, tudo que é limitado é, por definição, corporal. Todavia, uma questão que Santo Agostinho com sua insigne modéstia havia contestado, teve sua definição como doutrina oficial da Igreja apenas com o passar dos séculos; hoje não há mais espaço para a dúvida: o anjo não possui nada de corporal, é um puro espírito.

Mas não o anjo não deixa de ser um espírito criado, infinitamente distante daquele puro Espírito que é o Espírito Criador. Espírito Criador, espírito criado, há entre essas duas expressões uma diferença tamanha que só podemos explicar comparando um ser vivente e uma imagem inanimada. Se por sua qualidade de espírito o anjo aproxima-se de Deus, por sua qualidade de espírito criado aproxima-se de nós, e ele está bem próximo de nós, de forma que a distância que o separa de Deus é incomensurável.
Espírito puro, espírito criado, assim se nos apresenta a meditação da natureza angélica.

E, enquanto puro espírito, se oferece a nós num caráter de unidade, simplicidade, permanência, e, ao mesmo tempo, de perspicácia, de vigor e energia. A natureza angélica é como o diamante, permeável à luz, mas resistente ao aço e a todo solvente; porque onde não há uma substância composta, não há dissolução possível. Ela se compara adequadamente a uma luz sutil, que a tudo penetra, e a qual nada pode resistir. Ela é mais rápida que o espírito das tempestades, que a própria eletricidade, as distâncias não são nada para ela. Ela é toda olhos, como aqueles animais misteriosos sob os quais os símbolos o profeta Ezequiel nos representou os mensageiros divinos. Ela pode, num piscar de olhos, mover céus e terra, como por muitas vezes nos mostra o Apocalipse. Todas estas propriedades maravilhosas são conseqüências da espiritualidade dessa natureza.

Enquanto espírito criado, ela se apresenta a nós como essencialmente restrita e limitada: restrita em sua própria essência, restrita em seu poder, restrita ao campo de suas operações. Vamos tentar, mais a frente, determinar quais são esses limites, nos quais se desenvolve o poder maravilhoso dos anjos. Por enquanto estudemos suas faculdades.

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