segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O MUNDO DOS ESPÍRITOS - Anjos e Demônios ( II )

Por
Dom Bernard-Marie MARÉCHAUX

CAPÍTULO I
O MUNDO DOS ESPÍRITOS

I – A existência do mundo dos espíritos

Existe um mundo invisível, composto por estes puros espíritos que chamamos de anjos? Santo Tomás de Aquino nos responde.
Os anjos, diz o doutor angélico, não possuem a característica de serem necessários. Estritamente falando, Deus poderia criar o universo material; e o tendo criado, poderia governá-lo e administrá-lo por Si só, sem quaisquer intermediários. A criação dos anjos não era, portanto, necessária Àquele que de ninguém precisa e cuja virtude a tudo preenche.

Assim sendo, a razão não pode demonstrar, por um argumento rigoroso, a existência do mundo angélico; mas ela pode chegar em certa medida ao conselho da sabedoria divina que, ao organizar o universo, determinou que o mundo angélico lhe formaria parte.
Que o homem considere a si mesmo; reconhecerá então que é espírito e matéria, forjados conjuntamente em uma unidade de ser. Enquanto ser material não está sozinho; ocupa o grau mais elevado de uma cadeia que vai da matéria inanimada ao ser vivente. Por que estaria isolado enquanto ser espiritual? Por que não ocuparia ele o grau mais baixo de uma série ascendente de seres inteligentes e livres que, no limiar da criação material, gravita em direção à semelhança divina?

Se o homem considerar em particular sua inteligência, constatará que é, de certa forma, embrionária. Sua ação ocorre dependentemente de sua imaginação e de seu cérebro; ela não brota com clareza de sua faculdade intelectual. Mas o que é imperfeito supõe o que é perfeito. Acima de nosso espírito obscuro e tateante, deve haver espíritos vivos em plena luz, totalmente livres das condições materiais, nos quais o ato intelectual se produza com toda a perfeição que lhes é cabida. É através desse argumento que Santo Tomás chega a estabelecer a suprema conveniência da criação de seres puramente imateriais na ordem geral do mundo. E ele não hesita em afirmar que a perfeição do universo requer tal criação.

Então a existência do mundo angélico nos aparece, se não como absolutamente necessária, ao menos, como enormemente conveniente e eminentemente harmônica.
Mas tal existência pode ser constatada experimentalmente. Podemos ver as provas, historicamente incontestáveis, que em todas as épocas se produziu numerosos fatos de manifestações sensíveis de anjos e demônios. As páginas das vidas dos santos estão cheias; e as histórias profanas fornecem sua cota nesse tipo de fenômeno. Hoje mesmo o mundo dos espíritos a todo observador simplesmente imparcial; e, infelizmente, isso se faz notar muito mais pelo seu aspecto obscuro e maléfico, que por seu aspecto luminoso e saudável. A não ser por intervenção de seres inteligentes e invisíveis, como explicar os fenômenos perturbadores do espiritismo, como explicar as mesas de necromancia? Os espíritos envolvidos nesses experimentos são relatados como maliciosos e perversos; mas, se há maus espíritos, há necessariamente bons espíritos.

Vemos ainda que a crença universal da humanidade vem para corroborar com estes fatos de comum. A existência de um mundo imaterial que cerca nosso mundo material por todos os lados, e que o permeia até suas nascentes interiores; a existência dos anjos, com a distinção entre espíritos bons e maus, é destas verdades que chamamos de tradicionais, porque a encontramos entre todos os povos, mesmo observando a mais remota antiguidade. Os gregos, sob os pórticos dos templos, acreditavam em semideuses, em espíritos, em demônios; os selvagens, mesmo em sua grosseria, acreditavam nos espíritos.

Assim também crê o cristão; mas nele a crença universal, graças à fé, tornou-se certeza. A existência de anjos é afirmada em muitas passagens das Sagradas Escrituras; a todo o momento aparecem em cena como mensageiros de Deus. E se havia ainda qualquer dúvida a respeito dessa verdade o concílio de Latrão a declarou solenemente em sua profissão de fé: Deus fez, no começo, do nada, dois tipos de criatura; a espiritual e a corporal, então o homem é composto tanto de uma como da outra. O texto é claro. A existência do mundo dos espíritos é verdade entrevista pela razão, verdade experimental, verdade tradicional, e um dogma de fé.

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