sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Da Perfeição

Digo sempre tentar ser, falo dos que não são, esquecendo não ser eu também, e no meu erro tento, por vezes, pensar ser. Eis minha relação com a perfeição, imperfeita como d’outra forma não caberia, pois imperfeito sou mesmo sem querer, e mesmo não querendo, para minha desgraça, sigo amando a imperfeição. Ignomínia singular de ser humano; é dos tempos mais remotos nossa mais triste tradição.

Perfeito do latim, por completo feito, é quase bem completo em nos mostrar o entendimento, pois que se buscamos algo estamos longe de estarmos inteiros. Se sendo somos todos feitos, o que mais nos falta seria sermos por inteiro, e, assim sendo, do que é completo queremos nos fazer de espelhos. Já que somos imperfeitos, ainda que espelhos, somos incompletos, e o que é inteiro mostramos refletido apenas parte. Sabendo, no entanto, que a Perfeição é maior que o perfeito, mesmo se fossemos inteiros, do que é de fato completo não mostraríamos sequer meio. Ah, mas se fossemos completos, a parte que nos é todo seria por certo pedaço do infinito e nosso mais rico tesouro.

Disse desde a Grécia o Estagirita: “Nós nos transformamos naquilo que praticamos com freqüência. A perfeição, portanto, não é um ato isolado, é um hábito”. Logo, sendo sempre aos poucos, faz-se o alívio do sufoco de não ver-me no fim sendo perfeito. E com a luta de cada dia me proponho a vencer meus vazios dizeres, dou graças a quem é Mais que Perfeito, e me contento em ser simples espelho. Perfeitíssimo, sede meu alento.

Por
Gustavo V. de Andrade.

Um comentário:

Rafael Sotero disse...

ainda bem que sou perfeito e não penso nisso, hoho.