sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O MUNDO DOS ESPÍRITOS - Anjos e Demônios ( IV )

CAPÍTULO I
O MUNDO DOS ESPÍRITOS

III – As faculdades dos anjos

Chamamos de potências ou faculdades da alma à inteligência e a vontade. São, como se costuma dizer, as duas asas que levam à alma para o alto. O espírito angélico, da mesma forma, possui as duas asas, como de outra forma não poderia ser, pois são o complemento necessário de todo ser espiritual. Nele, elas são mais potentes e velozes, visto que um anjo é um espírito puro. Entre a inteligência e a vontade humana, e a inteligência e a vontade angélica, existe a mesma diferença que entre as asas de um inseto, e as asas de uma majestosa águia.
Nosso conhecimento dos anjos não seria possível senão pela via de comparação com nós mesmos; ao estudarmos a inteligência humana reconheceremos suas imperfeições, e compreenderemos que nos são próprias, poderemos então afastar o pensamento de fazer em nós a inteligência angélica, e só assim conseguiremos com sucesso pensar com certa clarividência, segurança e profundidade.

O espírito humano está como que adormecido durante a infância; ele se acorda impressionado com as imagens das coisas sensíveis; e, no começo, só lhe é acessível as impressões de prazer e dor. Então a razão desperta: o homem toma consciência de si mesmo, ele adquire a idéia de um bem que não prazer, de um mal que não é uma dor; ele passa ao estado de ser moral. Sua mente começa a se abrir gradualmente, e procura penetrar à verdade em todas as coisas; auxiliado pela aprendizagem social, ele enxerga claramente que, além do mundo material, há um mundo acessível apenas ao pensamento; esse mundo ele se esforça por adentrar, e ali fazer morada. Como esta formação é longa! Como estes questionamentos estão sujeitos ao erro! E mesmo nas concepções que ele laboriosamente adquire sobre as coisas espirituais, o homem acaba por deparar-se com obstáculos aparentemente intransponíveis. Unido a um corpo, seu pensamento necessita de um ponto de referência no mundo sensível para lançar-se no mundo intelectual.

Tais imperfeições não existem na inteligência angélica.
Puro espírito, o anjo não conhece a letargia de um espírito no corpo. Sua inteligência nunca dormiu, nem dormirá: desde o primeiro momento de sua existência, ela produziu seu ato, ela se jogou no esplendor do mundo intelectual, que era seu próprio elemento.
Não houve nos espíritos angélicos a formação intelectual. Deus os deu, juntamente com sua natureza, as idéias-mãe de todas as ciências. E bastava um piscar de olhos para os anjos tomarem posse por completo de um determinado campo da ciência que lhes fosse aberto ao aprofundamento, como basta ao homem um piscar de olhos para estar na eminência de abraçar um vasto horizonte.
Isso não significa dizer que a ciência de um anjo não pode ser aumentada; mas ela se expande, sem esforços, nos objetos que lhe são apresentados, e que estão ao alcance de sua visão.
Santo Tomás não teme em afirmar que, compreendida em si mesma e em relação a seu objeto, esta ciência está imune a todo erro; porque de uma só vez ela vai ao íntimo do objeto, e o contempla em todas as suas qualidades. Ela não atua de fato por um raciocínio laborioso, mas sim por meio de uma intuição segura de si mesma. Onde pode errar o espírito angélico é apenas em relação às coisas sobrenaturais e divinas que não fazem parte de sua esfera.
Enfim, a ciência dos anjos é uma ciência pura, ou seja, livre de qualquer imagem sensível que possa lhe enfraquecer a pureza e o vigor de seu intelecto. O anjo conhece a tudo espiritualmente; ao passo que o homem conhece a tudo materialmente, mesmo as coisas espirituais. A diferença é tremenda, como veremos.
A diferença é tão grande que Santo Tomás diz existir uma distância maior entre o conhecimento de um anjo e a do homem mais sábio do mundo, que a distância que há entre o conhecimento do homem mais sábio do mundo e o do mais ignorante. Comparemos três exemplos: um anjo, Santo Tomás e um iletrado. O anjo estará num grau imensamente mais elevado em relação a Santo Tomás, que o próprio Santo em relação a o iletrado. Poderíamos dar um melhor exemplo da idéia da transcendência da ciência angélica?

Ó Santos Anjos, águias sublimes das montanhas da eternidade, que se banham no esplendor que emana do Verbo, há, no entanto, um dom preferível à vossa ciência, e este dom cabe ao homem como a vós: é a caridade.

Consideremos agora à vontade angelical – A vontade segue à inteligência, e inclina o espírito ao objeto cuja beleza lhe é revelada. A inteligência é tateante, assim como a vontade humana é hesitante; a vemos agarrar-se a um objeto, para depois abandoná-lo; ela é livre, mas sua liberdade é limitada, diminuída pelo impulso das paixões, que nasce do apetite sensual.
Se, como vimos, a inteligência angélica difere da inteligência humana pela prontidão e segurança de seus conceitos, a vontade dos anjos difere da nossa por sua energia e a inabalável tenacidade de suas resoluções.
O anjo é incontestavelmente livre; e sua liberdade é mais clara que a nossa, estando acessível à atração apenas das coisas transcendentes. Ela não experimenta as questiúnculas, essas flutuações, que resultam das tendências opostas que nascem do espírito e da carne.
Estando livre e superiormente livre, o anjo estabelece para si mesmo esta ou aquela meta. Mas ele se determina com uma tal força de vontade, tão absoluta, que sua determinação se torna irrevogável.
Mas isso não faz do anjo impecável. É um privilégio da natureza divina o de não poder pecar. Todo ser criado pode distanciar-se de seu criador, assim como, pela graça, pode se aperfeiçoar aproximando-se dEle.
Estes conceitos são necessários para esclarecer nosso assunto. Nós iremos em breve discutir o grande drama da queda dos anjos. Mas primeiramente contemplemos o esplendor de sua criação.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O MUNDO DOS ESPÍRITOS - Anjos e Demônios ( III )

CAPÍTULO I
O MUNDO DOS ESPÍRITOS

II – A natureza angélica

Peçamos aos anjos, essas criaturas mais inefáveis que o vento, mais fulgurantes que o relâmpago, que se ponham um instante diante de nós, para que possamos apreender algo de sua aparência deslumbrante.

Existem três tipos de espírito: o espírito humano, o espírito angélico e o espírito divino criador de todas as coisas. Esses espíritos se movem em três esferas que podemos chamar concêntricas. A primeira esfera, cujo raio é o mais curto, é a da inteligência humana. A segunda, que envolve a primeira, incomparavelmente maior e mais elevada, é a aquela habita e preenchida pela natureza angélica. Por fim, a terceira, contendo as outras duas e de dimensão infinita, é a esfera de luminosidade inacessível, lugar próprio de Deus Criador, da Santíssima Trindade.
O conhecimento do homem, por si mesmo, confinado na esfera em que habita. Tem por seu terreno próprio às coisas humanas. Não que não possa elevar-se além da razão; mas não possui a visão clara e nítida do mundo dos espíritos. Quando procura formular uma idéia, imagens de coisas sensíveis vêm interpor-se entre os olhos da alma e os objetos puramente espirituais; e os distinguem muito confusamente, como se visse um objeto distante através de uma barreira pouco translúcida. Em poucas palavras, para conhecer a Deus perfeitamente, seria preciso ser o próprio Deus; para conhecer aos anjos perfeitamente, seria preciso ser um anjo. O homem que desejar penetrar nos segredos da natureza angélica, ficará sempre aquém da verdade. Ele será como um astrônomo que explora os espaços de luz onde se movem os astros. Poderia orgulhar-se de ter um conhecimento absolutamente exato? De forma alguma. São tais contemplações estéreis, tais observações inúteis? Seria errado de assim o pensar.

De toda forma, apesar da imperfeição que, a priori, nos detém na investigação a respeito dos anjos, elas não deixam de serem frutíferas e dulcíssimas.
Ao reduzirmos o anjo a um tamanho quase humano, descobrimos nele o reflexo de uma beleza ideal, que vem diretamente de Deus, Daquele que São Gregório de Nazianzo de primeira Luz, de primeiro Esplendor: “Os anjos, disse o santo, são como um fluxo, um riacho da primeira Luz; são os segundos esplendores, ao serviço do primeiro Esplendor”.

O anjo é um puro espírito, eis sua definição.
Ele não é composto de duas substâncias associadas em uma unidade de natureza como nós. Deus não o fez, segundo a enfática expressão de São Gregório Magno, uma mistura inexplicável de espírito e lama: investigabili dispositione miscuit spiritum et lutum. Se ele não possui um corpo material e pesado, tem então um corpo sutil e etéreo, um corpo fluído e imponderável. É uma substância espiritual pura, que não admite mistura com elementos corporais, mesmo o mais intocável.
Alguns Padres cogitaram que os anjos possuíam corpo, mas, de toda forma, um corpo fluído e luminoso. Talvez suas expressões tenham sido tomadas muito literalmente. Eles pareciam reservar a Deus, e a Deus somente, a qualificação de espírito puro. Para eles, tudo que é limitado é, por definição, corporal. Todavia, uma questão que Santo Agostinho com sua insigne modéstia havia contestado, teve sua definição como doutrina oficial da Igreja apenas com o passar dos séculos; hoje não há mais espaço para a dúvida: o anjo não possui nada de corporal, é um puro espírito.

Mas não o anjo não deixa de ser um espírito criado, infinitamente distante daquele puro Espírito que é o Espírito Criador. Espírito Criador, espírito criado, há entre essas duas expressões uma diferença tamanha que só podemos explicar comparando um ser vivente e uma imagem inanimada. Se por sua qualidade de espírito o anjo aproxima-se de Deus, por sua qualidade de espírito criado aproxima-se de nós, e ele está bem próximo de nós, de forma que a distância que o separa de Deus é incomensurável.
Espírito puro, espírito criado, assim se nos apresenta a meditação da natureza angélica.

E, enquanto puro espírito, se oferece a nós num caráter de unidade, simplicidade, permanência, e, ao mesmo tempo, de perspicácia, de vigor e energia. A natureza angélica é como o diamante, permeável à luz, mas resistente ao aço e a todo solvente; porque onde não há uma substância composta, não há dissolução possível. Ela se compara adequadamente a uma luz sutil, que a tudo penetra, e a qual nada pode resistir. Ela é mais rápida que o espírito das tempestades, que a própria eletricidade, as distâncias não são nada para ela. Ela é toda olhos, como aqueles animais misteriosos sob os quais os símbolos o profeta Ezequiel nos representou os mensageiros divinos. Ela pode, num piscar de olhos, mover céus e terra, como por muitas vezes nos mostra o Apocalipse. Todas estas propriedades maravilhosas são conseqüências da espiritualidade dessa natureza.

Enquanto espírito criado, ela se apresenta a nós como essencialmente restrita e limitada: restrita em sua própria essência, restrita em seu poder, restrita ao campo de suas operações. Vamos tentar, mais a frente, determinar quais são esses limites, nos quais se desenvolve o poder maravilhoso dos anjos. Por enquanto estudemos suas faculdades.

A Divindade de Cristo

Por Peter Kreeft

O dogma da divindade de Cristo é o principal dogma Cristão, pois é comparável a uma chave-mestra que nos abre todos os outros dogmas. Os cristãos não investigaram e testaram todos os ensinamentos, independentemente uns dos outros, recebidos via Bíblia e Igreja, mas acreditam em todos baseados na autoridade Dele. Pois se Cristo é divino, pode ser tido por infalível em tudo o que diz, mesmo nos ensinamentos duros como quando exalta o sofrimento e a pobreza, proíbe o divórcio, dá à Igreja a autoridade de ensinar e perdoar os pecados em Seu nome, adverte sobre o inferno (com freqüência e gravidade), institui o escandaloso sacramento de comer-Lhe a carne – por vezes até esquecemos quantas “palavras duras” nos dirigiu!

Quando os primeiros apologetas cristãos começaram a explicar a Fé que tinham aos não crentes, a doutrina da divindade de Cristo naturalmente foi atacada, já que era quase tão incrível para os Gentios quanto escandalosa para os Judeus. Que um homem nascido do ventre de uma mulher e morto numa cruz, um homem que teve cansaço e fome e raiva e agitação e que chorou no túmulo de seu amigo, que esse homem com sujeira debaixo das unhas devesse ser Deus era, simplesmente, a idéia mais impressionante, inacreditável e louca que já povoou o pensamento humano.

O argumento que os primeiros apologetas usavam para defender este dogma, aparentemente indefensável, tornou-se clássico. C. S. Lewis o usava com freqüência, em Cristianismo puro e simples, o livro que convenceu Chuck Colson (e muitos outros). Certa vez gastei metade de um livro (Between Heaven and Hell*) apenas neste argumento. É o argumento mais importante da apologética Cristã, pois se um incrédulo aceita à conclusão (de que Cristo é divino), tudo mais que é de Fé segue-se, não só intelectualmente (todos os ensinamentos de Cristo devem ser verdadeiros), mas também pessoalmente (se Cristo é Deus, Ele é também seu Senhor e Salvador).

O argumento, como todos os argumentos eficazes, é extremamente simples: Cristo ou era Deus ou um homem mau.

Os incrédulos normalmente dizem que ele era um bom homem, não um homem mau; que ele era um grande mestre da moral, um sábio, um filósofo, um moralista, e um profeta, não um criminoso, não um homem que merecesse ser crucificado. Mas um bom homem é justamente o que ele não poderia ter sido por simples bom senso e lógica. Pois ele arrogava ser Deus. Ele disse “Antes que Abraão fosse, Eu Sou”, assim falando a palavra que nenhum judeu ousava pronunciar já que era o próprio nome de Deus, dita a Moisés pelo próprio Deus na sarça ardente. Jesus queria que todos cressem que ele era Deus. Queria que as pessoas o adorassem. Ele afirmava perdoar os pecados de todos contra todos. (Quem poderia fazer tal senão Deus, Aquele ofendido em cada pecado?).

O que pensaríamos de uma pessoa que fizesse tais afirmações hoje? Certamente não pensaríamos que se tratasse de uma pessoa boa ou um sábio. Há apenas duas possibilidades: ou ele está falando a verdade ou não. Se ele falou a verdade, ele é Deus e ponto final. Nós devemos acreditar nele e adorá-lo. Se ele não falou a verdade, ele não é Deus, mas meramente um homem. Mas um mero homem que quer ser adorado como Deus não é um bom homem. Ele de fato é muito mau, seja moral ou intelectualmente. Se ele sabe que não é Deus, então é moralmente mau, um mentiroso tentando persuadi-lo deliberadamente a blasfemar. Se ele não que não é Deus, mas se sinceramente pensa que é Deus, então é intelectualmente mau – insano, na verdade.

A medida da insanidade é a diferença entre o que se pensa ser e o que se realmente é. Se penso que sou o maior filósofo da América, sou apenas um tolo arrogante; se penso que sou Napoleão, já adentrei o abismo; se penso que sou uma borboleta, há muito já dei adeus às terras ensolaradas da sanidade. Mas se penso que sou Deus, sou ainda mais insano, pois a distância que separa qualquer coisa finita do Deus infinito é muitíssimo maior que a distância entre duas coisas finitas, mesmo que seja entre um homem e uma borboleta.

Josh McDowell resumiu o argumento de forma simples e memorável no trilema “Senhor, mentiroso ou lunático?”, estas são as únicas opções. Então, por que não mentiroso ou lunático? Ora, ninguém que lê os Evangelhos pode honesta e sinceramente considerar tal possibilidade. O conhecimento, a candura, a sabedoria, a atratividade de Jesus emergem dos Evangelhos para todos, mesmo para o leitor de coração mais duro e preconceituoso. Compare a Jesus com mentirosos como o Reverendo Sun Myung Moon ou lunáticos como o moribundo Nietzsche. Cristo possui àquelas três qualidade que mais claramente faltam aos mentirosos e lunáticos:

1. Sua prática sapiente, sua habilidade de perscrutar os corações dos homens, e de compreender as pessoas e o sentido real por trás de suas palavras, sua habilidade de curar os espíritos das pessoas, assim como seus corpos.
2. Seu profundo e conquistador amor, sua compaixão apaixonada, sua capacidade de atrair as pessoas e fazê-las sentirem-se perdoadas e em casa, sua autoridade, “não como a dos escribas”; e acima de tudo
3. Sua habilidade de surpreender, sua imprevisibilidade, sua criatividade. Mentirosos e lunáticos são tão chatos e previsíveis! Ninguém que conheça aos Evangelhos e aos seres humanos pode seriamente acreditar na possibilidade de que Jesus fosse ou um mentiroso ou um lunático, um homem mau.

Não, os incrédulos costumam acreditar que Jesus foi um homem bom, um profeta, um sábio. Bem, se ele era um sábio então, podemos acreditar nas coisas essenciais que ele acreditou. E o ensinamento essencial dele é que ele é o divino Salvador do mundo e que você deve ir a ele para encontrar a salvação. Se ele é um sábio, você deve acreditar que seus ensinamentos essenciais são verdadeiros. Se seus ensinamentos são falsos, então ele não é um sábio.

A força desse argumento está em não ser meramente um argumento lógico a tratar de conceitos; trata do Cristo. Ele convida as pessoas a lerem os Evangelhos e conhecerem esse homem. A premissa do argumento é o caráter de Jesus, a natureza humana de Jesus. O argumento tem os pés no chão. Mas nos eleva ao céu, como a escada de Jacó (que Jesus disse significar ele mesmo: Gen 28, 12; Jo 1, 51). Um degrau sucede ao outro e todos sobem na mesma direção. Esse argumento é logicamente hermético; não há para onde fugir.

O que as pessoas dizem, então, quando confrontadas com esse argumento? Com freqüência, simplesmente deixam transparecer seu preconceito: “Ah, eu simplesmente não posso acreditar nisso!” (Mas se foi provado ser verdade, você deve aceitar como verdade, se a busca).

Muitas vezes, se afastam, como muitos dos contemporâneos de Jesus, imaginando e balançando as cabeças e pensando. Talvez seja o melhor resultado que se possa esperar. O terreno foi lavrado e preparado. A semente foi jogada. Deus a germinará.

Mas se eles conhecem a teologia moderna, têm uma ou duas escapatórias. Teologia tem escapatória; bom senso não. O bom senso é facilmente conversível. São os teólogos, como outrora, que são os endurecidos para a conversão.

A primeira escapatória é a dos “biblistas” de atacar a confiabilidade histórica dos Evangelhos. Talvez Jesus nunca tenha alegado ser Deus. Talvez todas as passagens problemáticas sejam invencionices da Igreja primitiva (diga “comunidade Cristã” – soa melhor).

Nesse caso quem inventou o Cristianismo tradicional se não Cristo? Uma mentira, assim como uma verdade, deve originar-se em algum lugar. Pedro? Os doze? A geração seguinte? Qual o motivo de quem quer que seja ter inventado esse mito (eufemismo para mentira)? O que tiraram desse elaborado embuste blasfemo? Pois deve ter sido uma mentira deliberada, não uma confusão sincera. Nenhum Judeu confunde Criador com criatura, Deus com homem. E nenhum homem confunde um defunto com uma pessoa ressuscitada, viva.

Eis o que eles tiraram do embuste. Seus familiares e seus amigos escarneceram deles. Sua participação social e política, suas posses, lhe foram surrupiadas tanto pelos Judeus quanto pelos Romanos. Foram perseguidos, aprisionados, chicoteados, torturados, exilados, crucificados, devorados por leões, e cortados em pedaços por gladiadores. Então alguns Judeus apatetados inventaram toda elaborada e incrível mentira que é o Cristianismo sem razão alguma, e milhões de Gentios creram neles, devotaram sua vida a isso – também por razão alguma. Tudo não passou de uma fantástica pegadinha, um embuste. Sim, há um embuste de fato, mas seus perpetradores são os teólogos do século XX, e não os evangelistas.

A segunda escapatória (veja como sempre estamos ansiosos para escapar dos braços de Deus como peixes escorregadios) é a de orientalizar Jesus, interpretando sua afirmação de ser o homem-Deus como um dos místicos ou dos muitos “adeptos” que percebiam sua própria divindade interior como um típico místico Hindu. Essa teoria simplesmente nega que Cristo tenha se arrogado o título de divindade, mas que em verdade tenha apenas percebido que somos todos divinos. O problema dessa teoria é simplesmente que Jesus não era Hindu, mas sim Judeu! Quando ele disse “Deus”, nem ele nem seus seguidores queria dizer Brahma, o impessoal, panteístico e imanente tudo; ele queria dizer Yahweh, o pessoal, teístico e transcendente Criador. É altamente inverossímil ver a Cristo como um como um guru Judeu. Ele ensinou a rezarmos como filhos de Deus, não a transcendermos esse estado pela meditação. Seu Deus é uma pessoa, não um pudim. Ele disse que era Deus, não que todos eram. Ele ensinou a respeito do pecado e do perdão, como nenhum guru fez. Ele nada disse a respeito da “ilusão” da individualidade, como fazem os místicos.


Ataque todas as escapatórias – Jesus como um simples homem bom. Jesus como um lunático, Jesus como um mentiroso, Jesus como homem que nunca reivindicou ser divino, Jesus como místico – remova esses portos seguros, e haverá apenas um porto seguro para os incrédulos se refugiarem. E uma feliz núpcias será. Pois todo esse argumento não passa de um pedido de casamento.


* Não publicado no Brasil.

link para o artigo original

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O MUNDO DOS ESPÍRITOS - Anjos e Demônios ( II )

Por
Dom Bernard-Marie MARÉCHAUX

CAPÍTULO I
O MUNDO DOS ESPÍRITOS

I – A existência do mundo dos espíritos

Existe um mundo invisível, composto por estes puros espíritos que chamamos de anjos? Santo Tomás de Aquino nos responde.
Os anjos, diz o doutor angélico, não possuem a característica de serem necessários. Estritamente falando, Deus poderia criar o universo material; e o tendo criado, poderia governá-lo e administrá-lo por Si só, sem quaisquer intermediários. A criação dos anjos não era, portanto, necessária Àquele que de ninguém precisa e cuja virtude a tudo preenche.

Assim sendo, a razão não pode demonstrar, por um argumento rigoroso, a existência do mundo angélico; mas ela pode chegar em certa medida ao conselho da sabedoria divina que, ao organizar o universo, determinou que o mundo angélico lhe formaria parte.
Que o homem considere a si mesmo; reconhecerá então que é espírito e matéria, forjados conjuntamente em uma unidade de ser. Enquanto ser material não está sozinho; ocupa o grau mais elevado de uma cadeia que vai da matéria inanimada ao ser vivente. Por que estaria isolado enquanto ser espiritual? Por que não ocuparia ele o grau mais baixo de uma série ascendente de seres inteligentes e livres que, no limiar da criação material, gravita em direção à semelhança divina?

Se o homem considerar em particular sua inteligência, constatará que é, de certa forma, embrionária. Sua ação ocorre dependentemente de sua imaginação e de seu cérebro; ela não brota com clareza de sua faculdade intelectual. Mas o que é imperfeito supõe o que é perfeito. Acima de nosso espírito obscuro e tateante, deve haver espíritos vivos em plena luz, totalmente livres das condições materiais, nos quais o ato intelectual se produza com toda a perfeição que lhes é cabida. É através desse argumento que Santo Tomás chega a estabelecer a suprema conveniência da criação de seres puramente imateriais na ordem geral do mundo. E ele não hesita em afirmar que a perfeição do universo requer tal criação.

Então a existência do mundo angélico nos aparece, se não como absolutamente necessária, ao menos, como enormemente conveniente e eminentemente harmônica.
Mas tal existência pode ser constatada experimentalmente. Podemos ver as provas, historicamente incontestáveis, que em todas as épocas se produziu numerosos fatos de manifestações sensíveis de anjos e demônios. As páginas das vidas dos santos estão cheias; e as histórias profanas fornecem sua cota nesse tipo de fenômeno. Hoje mesmo o mundo dos espíritos a todo observador simplesmente imparcial; e, infelizmente, isso se faz notar muito mais pelo seu aspecto obscuro e maléfico, que por seu aspecto luminoso e saudável. A não ser por intervenção de seres inteligentes e invisíveis, como explicar os fenômenos perturbadores do espiritismo, como explicar as mesas de necromancia? Os espíritos envolvidos nesses experimentos são relatados como maliciosos e perversos; mas, se há maus espíritos, há necessariamente bons espíritos.

Vemos ainda que a crença universal da humanidade vem para corroborar com estes fatos de comum. A existência de um mundo imaterial que cerca nosso mundo material por todos os lados, e que o permeia até suas nascentes interiores; a existência dos anjos, com a distinção entre espíritos bons e maus, é destas verdades que chamamos de tradicionais, porque a encontramos entre todos os povos, mesmo observando a mais remota antiguidade. Os gregos, sob os pórticos dos templos, acreditavam em semideuses, em espíritos, em demônios; os selvagens, mesmo em sua grosseria, acreditavam nos espíritos.

Assim também crê o cristão; mas nele a crença universal, graças à fé, tornou-se certeza. A existência de anjos é afirmada em muitas passagens das Sagradas Escrituras; a todo o momento aparecem em cena como mensageiros de Deus. E se havia ainda qualquer dúvida a respeito dessa verdade o concílio de Latrão a declarou solenemente em sua profissão de fé: Deus fez, no começo, do nada, dois tipos de criatura; a espiritual e a corporal, então o homem é composto tanto de uma como da outra. O texto é claro. A existência do mundo dos espíritos é verdade entrevista pela razão, verdade experimental, verdade tradicional, e um dogma de fé.

sábado, 9 de janeiro de 2010

O MUNDO DOS ESPÍRITOS - Anjos e Demônios ( I )

Por
Dom Bernard-Marie MARÉCHAUX



PREFÁCIO

Hoje as questões do além, do mundo invisível, atiçam e estimulam grandemente a curiosidade.
Já se passou o tempo em que o materialismo dominava nas escolas. Se ainda há partidários, seu número está em crescente declínio e seu tom já não é tão autoritário. Produziu-se uma reação no sentido espiritualista. A alma humana, por tanto tempo reprimida, reivindicou seus direitos. Ela despertou para tomar consciência de si mesma: o senso íntimo a proclama um espírito, sendo um ser pensante; há, portanto, algo mais no mundo além da matéria e suas energias cegas.
Ela é um espírito; mas existem outros espíritos além da alma humana? Existem espíritos completamente independentes da matéria? Estes espíritos se relacionam conosco? De que natureza é esta relação? Tais são as complexas questões que nos são impostas.

A isso responde a fé: sim, existe além do mundo material um mundo espiritual, e esse mundo é de uma magnificência inigualável, e há uma estreita relação entre os dois mundos. Não se arrisque em aventuras sem guia por essas regiões misteriosas; elas devoram os incautos e imprudentes que se expõem a uma curiosidade mórbida. Sigam a minha tocha; graças a sua luz vocês poderão explorar sem medo, com grande proveito e prazer verdadeiro.

Tomem a tocha, que se faz brilhante com o ensinamento dos mestres, em particular de Santo Tomás de Aquino; e adentremos no tema.
É importante, no entanto, traçar às linhas-guia. Examinemos o mundo angélico em sua constituição, na criação, na profunda divisão que se produziu nele. Estudemos em seguida qual a sua influência e o modo de ação dos espíritos sobre os corpos. Por fim, partamos para definir as características da ação própria dos anjos bons e dos demônios.

Em resumo:
O mundo dos espíritos;
O modo de ação dos espíritos;
A ação angélica e a ação demoníaca;
Assim se dividirá nosso trabalho, antes de qualquer dogmática.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

LADAINHA LAURETANA - Mãe Intacta

Maria é Mãe Intacta, pois em sua maternidade não experimentou nenhum dos tristes efeitos do pecado original. Nunca sofreu das enfermidades do corpo e da alma, que marcam a raça humana. Seu entendimento era claro, seu julgamento correto, e sua ciência era como a de nossos primeiros pais antes da queda. Gozou da mais completa liberdade, escapando dos maus desejos da servidão ao pecado. Concebeu do Espírito Santo, sem sacrificar sua virgindade e deu a luz ao Filho de Deus sem as dores do parto.
Até mesmo na morte Maria foi Mãe Intacta. Não morreu de doença alguma, nem mesmo de velhice. Morreu de um ardente desejo de reencontrar seu Filho amado; sua morte foi doce e calma, como se adormecesse, por isso chamamos tal acontecimento de Dormição. Seu corpo não chegou a corromper-se após a morte, novamente unindo-se a alma, foi assunta ao Céu; onde recebeu sua coroa de Glória e assumiu seu lugar de rainha.
Em sua incorruptibilidade espelhamos nossos esforços em buscar a pureza de corpo e alma.

Las Ensaladas de Mateo Flecha: La bomba



Ande, pues, nuestro apellido,
el tañer con el cantar
concordes en alabar
a Jesús rezién nascido.

Bendito el que ha venido
a librarnos de agonía.
Bendito sea este día
que nasció el contentamiento.

Remedió su advenimiento mil enojos,
Benditos sean los ojos
que con piedad nos miraron
y benditos que ansí amansaron tal fortuna.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sobre a pronúncia do latim

É bem conhecido no meio católico tradicional o esforço feito pelos papas do início do século XX para que em toda a parte o latim usado em celebrações litúrgicas fosse pronunciado ao modo de Roma. Já no seu Motu Proprio Tra Le Sollecitudine, no qual procurava restaurar o uso do canto gregoriano, que fazia algum tempo vinha sendo largamente substituído por composições polifônicas renascentistas, o Papa São Pio X escrevia:
"O texto litúrgico tem de ser cantado como se encontra nos livros aprovados, sem posposição ou alteração das palavras, sem repetições indevidas, sem deslocar as sílabas, sempre de modo inteligível"
O recado parecia dirigir-se especialmente aos franceses, que por causa das peculiaridades da pronúncia do seu idioma nativo, quando estas eram aplicadas ao latim acabavam prejudicando o ritmo e a melodia dos cantos gregorianos e eram necessárias certas adaptações para corrigir esses desvios. É claro que a França, sempre orgulhosa das suas coisas, não se rendeu fácil, e vários movimentos em defesa da pronúnica francesa do latim se ergueram no país. Entre os personagens fiéis ao desejo do papa, se destacou a figura do então Arcebispo de Bourges, Louis Dubois, depois promovido a Cardeal-Arcebispo de Paris, a quem São Pio X escreveu uma carta em 1912, reconhecendo o seu esforço e justificando mais uma vez a sua vontade de que a pronúnica romana fosse usada em todo lugar. Diz o papa na carta:
"Sua carta de 21 de junho passado, como também aquelas que Nós recebemos de um grande número de piedosos e distintos católicos franceses, Nos tem mostrado, para Nossa grande satisfação, que desde a promulgação do Nosso Motu Proprio de 22 de novembro de 1903, sobre a música sacra, um grande zelo tem sido demonstrado nas diversas dioceses francesas para fazer com que a pronúnica da língua latina se aproxime cada vez mais daquela usada em Roma e que, em conseqüência, seja mais perfeita, de acordo com as melhores regras da arte, a execução das melodias gregorianas, trazidas outra vez por Nós à sua antiga forma tradicional. Vossa Excelência mesma, quando ocupava a Sé de Verdun, se engajou nesta reforma e fez algumas proveitosas e importantes regulações para assegurar o seu sucesso. Nós soubemos igualmente, com real satisfação, que esta reforma já está se propagando para muitos lugares e foi introduzida com sucesso em muitas catedrais, seminários, universidades e até mesmo em simples Igrejas rurais. A questão da pronúncia do latim está intimamente ligada à restauração do Canto Gregoriano, sempre presente nos Nosso pensamentos e recomendações desde o início do Nosso pontíficado. O acento e a pronúnica do latim tiveram grande influência na formação rítmica e melódica da frase gregoriana e portanto é importante que essas melodias sejam reproduzidas da forma como elas forma concebidas artisticamente na sua origem. E, por fim, a difusão da pronúncia romana terá a vantagem adicional, como Vossa Excelência bem lembrou, de consolidar cada vez mais o esforço de unidade litúrgica na França, uma unidade a ser realizada pelo feliz retorno à liturgia romana e ao canto gregoriano. Por essa razão, Nós desejamos que o movimento de retorno à pronúncia romana do latim continue com o mesmo zelo e sucesso consolador que marcou o seu progresso até então"
Dezesseis anos mais tarde, foi a vez do Papa Pio XI escrever ao agora Cardeal Dubois de Paris:
"Nós também muito estimamos o seu plano de impelir a todos os que ficam sob a sua jurisdição a pronunciar o latim mais ao estilo romano. E não satisfeitos, como os Nossos predecessores de feliz memória Pio X e Bento XV, em simplesmente aprovar essa pronúncia do latim, Nós expressamos o mais forte desejo de que todos os bispos de todas as nações a adotem nas celebrações litúrgicas"

Diante dessa vontade claramente expressa pelos papas de que nas cerimônias litúrgicas se adote a pronúnica romana, torna-se interessante que todos os fiéis tradicionais a conheçam. Especialmente no Brasil, que possui o costume largamente difundido das Missas dialogadas, quase excluindo as Missas simplesmente rezadas, os fiéis precisam lidar, a cada Missa, com a pronúncia do latim. Portanto, para a utilidade dos leitores deste blog, passaremos a descrever a seguir como pronunciá-lo de acordo com o jeito romano:

1. AS VOGAIS

- As vogais /a/, /i/ e /u/ não oferecem nenhuma dificuldade, pronunciam-se como no português.

- Já as vogais /e/ e /o/ necessitam de alguma atenção, pois elas devem ser pronunciadas sempre abertas. Assim, por exemplo, a palavra “Domine” se diz /-mi-né/ e não /-mi-nê/, e a palavra “Deus” se fala /-us/ e não /-us/ como no português.

- No latim não existe nasalização de vogais, portanto este é outro cuidado que devemos observar. Por exemplo, “campus” se diz /-m-pus/ e não /-pus/. Para quem tem o português como língua nativa, evitar as nasalizações talvez seja uma das poucas grandes dificuldades que o latim oferece.

- /ae/ e /oe/ se pronunciam também como um /e/ aberto, exceto quando o acento tônico recair sobre o /e/, como na palavra “poeta”, onde a letra /o/ também precisa ser dita.

- Devemos tomar cuidado também com as vogais fantasmas, que são muito comuns na pronúncia do português. Todas as consoantes precisam ser pronunciadas, sem que se enfie uma vogal inexistente na palavra. “Spiritus” não é a mesma coisa que “espiritus” ou “ispiritus”, e “omnes homines” é uma expressão que contém duas palavras que deveriam ser pronunciadas de maneira levemente diferente, já que em “omnes” não existe nenhuma vogal entre o /m/ e o /n/.

2. AS CONSOANTES

- As consoantes /b/, /f/, /m/, /n/, /p/, /q/ e /v/ pronunciam-se como no português.

- A letra /q/ merece apenas uma pequena observação pois ela sempre vem seguida da vogal /u/, e este /u/ pronuncia-se sempre, mesmo nas sílabas /que/ e /qui/, que se dizem /kué/ e /kui/.

- Já vimos que no latim não existem vogais nasalizadas, portanto o /m/ e o /n/ devem ser bem pronunciados. Expressões como, por exemplo, “ad Dominum Deum Nostrum” devem ter o /m/ final de cada palavra bem claro, sem que a vogal que o antecede seja nasalizada.

- O /p/ seguido de /h/ tem som de /f/, como em “philosophia”.

- /ca/, /co/, /cu/, /ga/, /go/ e /gu/ se falam como no português. Já /ce/, /ci/, /ge/ e /gi/ se dizem /tché/, /tchi/, /djé/ e /dji/.

- O /ch/ tem sempre som de /k/.

- /gn/ tem som de /nh/. “Agnus” = /a-nhus/.

- Sobre o /d/ e o /t/, primeiramente devemos notar que a maioria dos brasileiros pronuncia as sílabas /ti/ e /di/ como /tchi/ e /dji/. Isso naturalmente precisa ser eliminado da pronúncia latina. Em latim /ti/ e /di/ é /ti/ e /di/, sem nenhum som de espirro. Até porque, como nós vimos, os sons /tchi/ e /dji/, no latim, se escrevem /ci/ e /gi/, e portanto o /t/ e o /d/ não podem ser pronunciados da mesma maneira, sob o risco de causar alguma confusão.

- A sílaba /ti/ também tem uma outra peculiaridade. Quando ela vier seguida de uma vogal e não for antecedida por um /s/, ela se pronuncia /tsi/. Como exemplo, “gratia” se diz /gra-tsia/, enquanto “hostia”, se fala /hos-tia/ mesmo. A palavra “laetitia” seria portanto pronunciada como /lé-ti-tsia/ – lembre-se que /lé-ti-tsia/ não é a mesma coisa que /lé-tchi-tsia/.

- O /h/ é mudo, exceto quando vier entre dois /i/, quando ele adquire o som de /k/. “Mihi” se lê /mi-ki/.

- O /j/ tem som de /i/.

- O /l/ é sempre pronunciado, mesmo que ele não tenha nenhuma vogal depois de si. No português, quando isso acontece, o /l/ vira um /u/. Mas não pode acontecer o mesmo no latim.

- O /r/ não pode ser nunca aquele /r/ aspirado “carioca”, como é na maior parte do Brasil. A pronúncia do /r/ deve se fazer sempre vibrando a ponta da língua atrás dos dentes. O /rr/ também se fala vibrando a língua, só que de forma mais forte e prolongada. Acredito que o /r/ deve ser a maior dificuldade na pronúncia do latim para os brasileiros, pelo menos para aqueles que estão acostumados com o /r/ aspirado.

- A letra /s/ se pronuncia como no português. Isso vale inclusive para o fato de que quando esta letra estiver entre vogais, ela também tem som de /z/, como acontece na nossa língua. Dessa forma, por exemplo, a palavra “miserere” se diz /mi-zé--ré/ – recorde-se que o /e/ é aberto, não fique dizendo /mi-zê--rê/. Mas o /s/ não pode ser “chiado”, como é na maior parte do Brasil, deve ser sempre o /s/ sibilado, /s/ de cobra, /s/ paulista, ou seja lá como você conhece este /s/.

- /sce/ e /sci/ tem som de /ché/ e /chi/.

- O /x/ tem sempre o som de /ks/. Mas o /xc/ se pronuncia /kch/, como, por exemplo, em “excelsis”.

- A consoante /y/, que aparece em algumas palavras de origem grega, se pronuncia como um /i/.

- Por fim, a letra /z/ pode soar como /dz/ quando inicia uma palavra ou /ts/ quando se encontra no meio dela.


Quais as posições devemos adotar durante a Missa Tradicional?

Missa Dialogada

Missa Cantada

Missa Rezada

Asperges Me

Em Pé

Em Pé

Em pé

Orações ao pé do Altar

De Joelhos

De Joelhos

De Joelhos

Introito

De Joelhos

De Joelhos

De Joelhos

Kyrie Eleison

De Joelhos

De Joelhos

De Joelhos

Glória

Em Pé

Em Pé (0)

De Joelhos

Coleta

Em Pé (1)

Em Pé (1)

De Joelhos

Epístola

Sentados

Sentados (2)

Sentados

Gradual/Aleluia/Tracto

Sentados

Sentados

Sentados

Evangelho

Em Pé

Em Pé

Em Pé

Credo

Em Pé (3)

Em Pé (4)

Em Pé (3)

Antífona do Ofertório

Em Pé

Em Pé (5)

Em Pé

Ofertório

Sentados

Sentados (6)

Sentados

Orate Fratres

Em Pé

Sentados (7)

Sentados

Secreta

Em Pé

Sentados (7)

Sentados

Prefácio

Em Pé

Em Pé

Em Pé

Sanctus

Em Pé

Em Pé (8)

Em Pé

Canon

De Joelhos

De Joelhos

De Joelhos

Do Pater Noster ao Haec Commixtio

Em Pé

Em Pé

De Joelhos

Do Agnus Dei à Comunhão dos Fiéis

De Joelhos

De Joelhos

De Joelhos

Abluções

De Joelhos (9)

De Joelhos (9)

De Joelhos (9)

Antífona de Comunhão

Em Pé

Em Pé

De Joelhos

Post-Communio

Em Pé

Em Pé

De Joelhos

Ite Missa Est

Em Pé

Em Pé

De Joelhos

Placeat Tibi e Benção Final

De Joelhos

De Joelhos

De Joelhos

Evangelho Final

Em Pé

Em Pé

Em Pé

Orações Finais

De Joelhos

-

De Joelhos

Notas:

(0) Os fiéis sentam-se quando o padre o fizer, e levantam-se junto com ele ao final do canto do Gloria.

(1) Nas Missas de roxo e de preto, onde não há Gloria, e portanto a Coleta sucede imediatamente ao Kyrie Eleison, os fiéis devem permanecer ajoelhados até a Epistola.

(2) Os fiéis se sentam logo após a Coleta também nas Missas Cantadas, onde a Epistola é entoada em latim e depois repetida em vernáculo. Não se deve esperar o fim do canto da Epistola em latim para poder se sentar.

(3) No Credo os fiéis devem genuflectir durante o ET INCARNATUS EST.

(4) Nas Missas Cantadas os fiéis devem genuflectir enquanto o coro canta o ET INCARNATUS EST e, depois disso, devem se sentar quando o padre se sentar e se levantar junto com o padre ao fim do canto do Credo.

(5) Os fiéis sentam-se imediatamente após o padre entoar o Oremus.

(6) Quando houver o ritual de incensação, os fiéis devem se levantar para as incensações do sacerdote e da própria assistência, sentando-se logo em seguida para o Lavabo.

(7) Em algumas Igrejas há o costume de, nas Missas Cantadas, os fiéis também responderem em voz alta junto com os acólitos. Nesses casos, os fiéis devem se levantar quando o padre pronunciar o Orate Fratres, e respondê-lo em pé, permanecendo assim até o Sanctus, como se faz nas Missas Dialogadas.

(8) Nas Missas Cantadas os fiéis se ajoelham ao toque da sineta, não devem esperar o fim do canto do Sanctus.

(9) Durante a distribuição da Comunhão os fiéis devem permanecer ajoelhados até que as espécies sagradas sejam guardadas no Tabernáculo, e este seja fechado. Depois disso, durante as abluções, os fiéis podem, se assim desejarem, sentar-se até o fim das abluções.

Interpretações enganosas do Motu Proprio Summorum Pontificum

Por Mons. Ignácio Barreiro Carámbula


Nos últimos tempos temos vistos crescerem os ataques e as más interpretações do Motu Próprio Summorum Pontificum. O objetivo de tais críticas é o de impedir ou ao menos restringir a aplicação desta lei, para depois poder ser afirmado que os fiéis não estão interessados no rito extraordinário da liturgia. Esta atitude demonstra um espírito de desobediência que foi denunciado abertamente por S. Em.ª Revm.ª Mons. Albert Malcom Ranjith, Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Tendo em conta a difusão destas críticas, creio que é útil analisa-las brevemente.

Alguns argumentaram que o Motu proprio enfraquece a autoridade do Concílio Vaticano II, e tem propostas para recuperar o seu espírito e não se separar dos textos aprovados. Isto produz riscos de graves distorções da doutrina da Igreja. Ao contrário, a interpretação do Concílio deve ser feita seguindo o critério da Hermenêutica da Continuidade indicada pelo Santo Padre. A proposta leva a uns e outros a concluir que seria difícil conciliar o rito extraordinário da liturgia com a visão eclesiológica do Vaticano II. Mas estes autores não estão em condições de demonstrar que o Vaticano II introduziu uma nova eclesiologia na Igreja. Afirmar que a eclesiologia do Vaticano II não é compatível com a precedente teologia da Igreja significaria cair em uma forma de Hermenêutica da descontinuidade e da ruptura, que Bento XVI denunciou como errônea em seu discurso à Cúria Romana em 22 de dezembro de 2005. Neste discurso demonstra também que a constituição da Igreja não poderia ser alterada pelo Concílio Vaticano II “porque não pode ser mudada, já que a constituição essencial da Igreja vem do Senhor e nos foi dada para que pudéssemos alcançar a vida eterna”.

Não se pode afirmar que a liturgia promulgada por Paulo VI seja a liturgia querida pelos padres conciliares. Esta é uma asserção de natureza histórica que pode se demonstrar com facilidade. Ao mesmo tempo tal afirmação não implica a negação da validez jurídica das reformas. Por tanto é legítimo discutir se a reforma paulina foi além do pedido na constituição conciliar Sacrosanctum Concilium. Daí que as discussões sobre os problemas da reforma não podem ser consideradas um ataque ao Concílio em si. Recentemente o Arcebispo Albert Malcom Ranjith, revelava como “…em matéria litúrgica, em várias inovações introduzidas se podem (…) encontrar diferenças substanciais entre o texto da constituição Sacrosanctum Concilium e a reforma pós-conciliar feita depois. É verdade que o documento deixava espaços abertos à interpretação e à investigação, mas isso não significa um convite a fazer uma renovação litúrgica entendida como algo feito ex novo; ao contrário, se inseria plenamente na tradição da Igreja”. Pode-se dizer que a eliminação do latim foi feita contra o estabelecido no Concílio; o mesmo se poderia dizer em relação aos sagrados silêncios. A constituição Sacrosanctum Concilium estabelece: “Por último não se introduzam inovações se não exige uma utilidade verdadeira e certa da Igreja, e só depois de ter a precaução de que as novas formas de desenvolvam, por assim dizer, organicamente a partir das existentes”.

Esta norma abre um amplo campo de reflexão e discussão sobre a maior e a menor prudência com que muitas mudanças foram introduzidas na liturgia, como a recepção da Comunhão na mão e a mudança na orientação dos altares; alterações introduzidas sem nenhum mandato do Concílio e sem estar organicamente ancorados na liturgia tradicional da Igreja. Há autores que falam de pontos de “fadiga e limites do chamado ritus antiquor”, mas se poderia dizer o mesmo e mais do Novus Ordo, que por certo não cumpriu as esperanças pastorais de seus promotores. As estatísticas da Igreja são uma prova palpável.

As pessoas que põem objeções ao Motu Próprio falam do risco de se ver reduzida a unidade ritual da Igreja Latina. Com a criação desta lei – dizem – estaríamos caminhando para a criação de fato de duas igrejas paralelas. Aqui devemos recordar que S. Pio V ao promulgar o Missal Romano com a Bula Quo primum tempore estabelecendo a obrigação de seu uso, estabeleceu também, como exceção, que as Igrejas que puderem demonstrar um rito próprio ininterruptamente usado durante mais de duzentos anos, o poderiam conservar. Depois do Concílio de Trento, que não obstante manifestou a vontade de unificar o rito latino, se manteve a pluralidade de ritos. O Cardeal Raztinger em 2001 afirmava: “Parece-me essencial reconhecer que ambos os missais são missais da Igreja, e pertencem a Igreja que permanece sempre a mesma”. Mais adiante o Cardeal acrescentava, para sublinhar que não há ruptura essencial, que a continuidade e a identidade da Igreja existem: “parece-me indispensável manter a possibilidade de celebrar segundo o antigo Missal, como sinal da identidade permanente da Igreja”. Em verdade se deve afirma que em nossos tempos esta unidade foi vilipendiada pelos abusos e interpretações excessivamente reformistas que sofreu a liturgia da Igreja após o Concílio. Pode-se afirmar também que a unidade ritual da Igreja Latina não é reforçada pelas formas de celebrar que adota a forma ordinária, e que a causa de tantas adaptações, intentos de inculturação, e diversos estilos, se apresentam como uma pluralidade de formas litúrgicas muito diversas entre elas. Recordo que faz alguns anos, uma professora de História, depois de participar em quatro missas diferentes em uma cidade da América do Norte, me disse que tinha a impressão de haver visitado quatro religiões diferentes. Quando nós apreciamos a forma extraordinária da liturgia falamos, falamos de um verdadeiro pluralismo; não creio que ajude a um sereno diálogo que um autor nos recorde que na época do Concílio de Trento “a Santa Sé quis privilegiar, mediante o rito romano, uma linha de rígida uniformidade”; isso é não historicamente correto. Talvez, o que o autor queira dizer é que ele, por razões de oposição ao Motu Próprio, é a favor de uma rígida uniformidade na celebração litúrgica segundo a forma ordinária; o que, de certa forma, é uma contradição, posto que a celebração deste rito não é particularmente uniforme.

Não se pode afirmar que o Motu Próprio seja puramente pastoral, porque tem como finalidade a proteção do tesouro litúrgico e da Santa Missa, que é o maior presente que a Igreja recebeu de Jesus Cristo. Por isso trata-se de uma visão reducionista afirmar que o Motu Próprio foi promulgado apenas para re-introduzir na unidade da Igreja os membros da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Devemos nos antecipar aos problemas com a comprovação da qual fala o Santo Padre em sua carta que acompanha o documento: se aceitarmos essa visão redutiva e se em três anos os membros da Fraternidade não voltarem à unidade canônica, os inimigos da liturgia tradicional poderiam dizer que o Motu Próprio não obteve os resultados para os quais foi promulgado. Diferentemente, esta nova lei da Igreja tem um claro objetivo dogmático e disciplinar, que é preservar a natureza sagrada da liturgia frente aos abusos. O Santo Padre, em sua carta que acompanha o Motu Próprio, chama a atenção sobre como “em muitos lugares”, a infidelidade na celebração do Novo Missal “levou freqüentemente a deformações da liturgia no limite do suportável”. Como destaca o Santo Padre no preâmbulo desta lei, a correta celebração da liturgia serve “não só para evitar erros, senão também para transmitir a integridade da fé, porque a lei da oração da Igreja corresponde a sua lei de fé”. Para ele a declaração legal do pleno valor do rito extraordinário serve como testemunho da sacralidade da liturgia e como meio para limitar os abusos litúrgicos.

As pessoas que põem objeção à aplicação deste Motu Próprio, argumentam também que o rito extraordinário não favorece a participação dos fiéis e que, conseqüentemente, vai contra o disposto na constituição Sacrosanctum Concilium: “Portanto, a Igreja, com grande cuidado, busca que os cristãos não assistam a este mistério de fé como estranhos e mudos espectadores, senão que compreendendo-o bem através dos ritos e das orações, participem conscientes, piedosa e ativamente na ação sagrada,…”. No rito tradicional se destaca, sobretudo, a participação interior ou espiritual dos fiéis, que é verdadeiramente a mais importante forma de participação. Para favorecer o recolhimento interior esta Missa tem muitos momentos de silêncio, ainda mais quando é rezada em sua forma solene ou rezada. A piedade, o culto a Deus, adquire seu sentido místico e cheio de humildade intelectual quando se fundamenta no silêncio. São Tomás de Aquino nos diz: “Deus é honrado no silêncio”. A participação interior se exercita com a atenção do ânimo e do coração, e se faz mais eficaz se se une à participação externa com gestos e de modo especial, respondendo com as orações e os cantos. Seguindo estas normas, muitos sacerdotes que celebram segundo o rito extraordinário busca favorecer a participação dos fiéis instruindo-os, por exemplo, a respeito de que atitude devem assumir (quando devem estar de joelhos, em pé ou sentados, exortando-os a responder às orações ou a unir suas vozes à do celebrante quando pedem ou consentem as rubricas, e exortando-os a cantar). Em conformidade com o artigo 6 do Motu Próprio, as leituras, depois de serem proclamadas em latim, são lidas em vernáculo. Quando a forma extraordinária da liturgia se generalize, estou seguro de que muitos sacerdotes buscarão o modo pelo qual a Instrução da Sagrada Congregação de Ritos sobre a Música Sacra e a Sagrada Liturgia seja plenamente aplicada.

Há autores que criticam o lecionário do rito extraordinário e o acusam de ser muito limitado em comparação com o que se utiliza quando se segue o Missal de Paulo VI. Aqui devemos fazer uma só pergunta: o aumento do número de textos bíblicos por acaso causa um maior conhecimento da doutrina por parte dos fiéis?

Estão em andamento variadas tentativas de impor uma aplicação restritiva do Motu Próprio. Quem agita o espantalho está dizendo que o pedido pela Missa tradicional pode “ser determinada pela curiosidade pelo diferente e pela busca de um folclore religioso”. O senso comum mostra que nenhum grupo pede a celebração desta forma litúrgica pelas ditas razões, ou outras superficiais.

Há outro autor que propõe uma verdadeira inquisição para determinar os motivos daqueles que, não tendo crescido com este rito, pedem agora o seu uso. Esta inquisição não está prevista no Motu Próprio, e, portanto, viola frontalmente os direitos dos fiéis. Muito mais grave é outra coisa que sugere este mesmo autor, que a decisão de celebrar a Missa tradicional por um sacerdote jovem, seria a indicação de uma possível fragilidade, dificuldade, cansaço, uma necessidade de instrumentos para compreender sua própria presença e identidade, não somente no mundo, senão dentro da Igreja que está em transição. Em outras palavras, o que afirma este autor é que os jovens sacerdotes são uns deslocados. O mais grave é que ele também sustenta que as mudanças sugeridas por ele são algo seguro, quase “predeterminadas pela história”.

Não é verdade o que se diz no editorial do La Civiltá Cattolica, isso é, que posto que no Motu Próprio “nada se fala sobre o sacramento da Ordem, que o único ritual para as ordenações é o da reforma litúrgica”. Aqui é preciso explicar, primeiramente que o fato deste sacramento não ser mencionado pelo legislador não significa sua interdição, pela própria natureza desta lei, que não é uma norma jurídica que crie direitos, mas que os reconhece. Como expliquei, esta norma não é constitutiva, senão declarativa. Em segundo lugar, tanto a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney como diversas ordens religiosas, tem como direito próprio o ritual para ordenação que existia antes das reformas pós-conciliares. Um princípio geral de interpretação da lei indica que uma norma geral não derroga direitos particulares, e isto seria aplicável no caso que se pretendesse afirmar que o Motu Próprio não reconhece a validez do rito da Ordem existente antes do Concílio.

Se tanto os que celebram a Santa Liturgia na forma ordinária como os que, como nós, celebram utilizando a forma extraordinária, tem o mesmo espírito de fé e de autêntica caridade, possam ter a esperança de que esta diversidade, prevista pelo Motu Próprio, não acabará de maneira alguma com a unidade da Igreja Latina, antes, porém, enriquecerá e fortificará a Igreja. Se todos atuam de boa fé, sem necessidade de restringir a legítima liberdade dos outros na escolha de liturgias aprovadas pelo Supremo Legislador, a unidade da Igreja sairá reforçada. Se esta nova lei é aceita e devidamente acolhida, teremos uma via de saída para a crise que há muitos anos está minando a Igreja, e encontraremos o dinamismo necessário para retomar o caminho evangelizador ao qual nos chama o Senhor.

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