quarta-feira, 11 de junho de 2008

Da argila à imagem


Entronizada inicialmente no séc.XIX como padroeira da Facvldade de Direito do Recife por alunos e professores, N.Sra. do Bom Conselho, retorna hoje a seu lugar de direito, graças a disposição do Círculo Católico e a ação do Movimento Centenarista.

Apresento agora um pequeno texto em comemoração ao fato.

Da argila à imagem

“Então Javé Deus, modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente”. (Gênesis 2, 7)

Da terra feita a vida do homem, não tardou pra que o mesmo, saído da argila, mergulhasse na lama de seus pecados. Assim como levanta poeira a terra batida, nebula o existir o torpor de nosso estado, a natureza decaída. Amamos a sujeira que cobre a Terra como porcos que não erguem olhos ao firmamento, que firme sempre há de durar, apesar da imundice que abaixo assola e nos envolve. Do pó viemos e ao pó não tardará nosso regresso, sempre a mais pisar no lamaçal, a nos sujar e nos sujar.

Na pedra cresce o musgo e da chuva as videiras fazem firmes raízes, dando alimento ao homem. Da terra nasce o trigo, a papoula e a sequóia, na terra faz a toca o tatu e no galho o ninho o João-de-barro. Da terra fez-se a vida, que da terra hoje ainda mesmo se tira. Da terra tira o homem à arte. Seja barro, gesso ou pedra, ou quem sabe ainda árvore, ganha forma a beleza trabalhada, esculpida lasca a lasca. Um pensar feito em matéria. Ensinando-nos o Deus na Terra usamos o que de belo se fazia para louvar a Deus então. Fez-nos Ele a Sua imagem e semelhança, fazemos nós pedaço de contemplação.

Os ignorantes às imagens querem soprar nas narinas e dar-lhes também vida; os humildes, ao contrário, da imagem aprendem, eles mesmos, a ter vida, e vivem então a dar frutos.

Medianeira primeira, flor-de-lis esplendorosa, a mais bela já nascida desde a terra, é a mais bela ainda que apenas feita em pedra. Da sua imagem só zombam insensatos, homens ingratos, de fato, e perante seu olhar não há quem se diga sério sem se envergonhar de suas próprias manchas, e ver naquela pedra refletida a sapiência eterna, espelho de Justiça, um clarão de misericórdia.

O Bom Conselho é em verdade maternal – maternos os olhos a vigiar – e filial é o adorar a Deus por meio dela, rainha bela deste lar. Que da terra, sempre ela, a máxima beleza alcançada seja polida, pra dar vida aos que mesmo na lama almejam ao sol. E como imagem que somos nós, saibamos também aprender pela imagem a ter vida. E ainda apenas simples imagens, peçamos então que rogue por nós a Santa Mãe do Bom Conselho.

Mater Boni Consilii, ora pro nobis!