quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

St.Agostinho de Hipona

Júpiter derrotado deu vazão aos godos e os pagãos amargurados culpavam àqueles que por Roma entendiam o Primado. Era o fim do império que em vãs lucubrações haveria de durar eternamente. Filho de Mônica e Patrício nasceria aquele que por virtude e sabedoria triunfaria em meio a Patrística. Nascia como todos, com nefasta mancha. Se do vizinho roubava pêra era para saciar a ânsia de pelo mal, bem viver, e não bastando a natureza decaída fez da queda uma “amiga”.

Foi na queda que desceu ao abismo. Da fruta quis o doce, e do doce o que restou? Gosto amargo do torpor. Pequeno verme que se fez a mastigar as entranhas da terra. Estranhas carnes que provou, pareciam exalar suave fragrância, um adorável odor. Mas apenas pareciam, pois no fundo escondiam terrível armadilha: havia sem saber provado da morte, pensando bem viver.

E de verme se fez homem. Tendo seguido exemplo de sua mãe Mônica, sua Mãe maior o resgatou. De Numídia a Cartago, de Cartago a Milão, em nenhum outro lugar, porém, fez-se tão bom como em Hipona. A Deus e ao mundo fez ouvir os horrores do tempo de verme e sobre a vida de homem tampouco se calou, revelando as belezas que encontrara.

Já havia visto no mal uma verdade e vendo após o bem que não percebia, humilhou-se e em verdade agora via. À Verdade obedecia, submisso que ficava, quando de jovem anjo escutava: “Mais fácil colocar todas águas em tão pequeno buraco, que tua mente conhecer os segredos do infinito”.

Dos bons frutos que Platão semeou colheu todos, limpando a sujeira que guardavam quando por terra caíram, após ver também Ambrósio com os bons frutos que colhera. “O homem não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade” assim dizia, e de outra forma não foi, pois feliz ele estava quando a cidade dos homens deixou para adentrar a cidade que a Deus pertencia.

Por

Gustavo V. de Andrade

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Da Perfeição

Digo sempre tentar ser, falo dos que não são, esquecendo não ser eu também, e no meu erro tento, por vezes, pensar ser. Eis minha relação com a perfeição, imperfeita como d’outra forma não caberia, pois imperfeito sou mesmo sem querer, e mesmo não querendo, para minha desgraça, sigo amando a imperfeição. Ignomínia singular de ser humano; é dos tempos mais remotos nossa mais triste tradição.

Perfeito do latim, por completo feito, é quase bem completo em nos mostrar o entendimento, pois que se buscamos algo estamos longe de estarmos inteiros. Se sendo somos todos feitos, o que mais nos falta seria sermos por inteiro, e, assim sendo, do que é completo queremos nos fazer de espelhos. Já que somos imperfeitos, ainda que espelhos, somos incompletos, e o que é inteiro mostramos refletido apenas parte. Sabendo, no entanto, que a Perfeição é maior que o perfeito, mesmo se fossemos inteiros, do que é de fato completo não mostraríamos sequer meio. Ah, mas se fossemos completos, a parte que nos é todo seria por certo pedaço do infinito e nosso mais rico tesouro.

Disse desde a Grécia o Estagirita: “Nós nos transformamos naquilo que praticamos com freqüência. A perfeição, portanto, não é um ato isolado, é um hábito”. Logo, sendo sempre aos poucos, faz-se o alívio do sufoco de não ver-me no fim sendo perfeito. E com a luta de cada dia me proponho a vencer meus vazios dizeres, dou graças a quem é Mais que Perfeito, e me contento em ser simples espelho. Perfeitíssimo, sede meu alento.

Por
Gustavo V. de Andrade.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

PERFUME DO ORVALHO










E o tempo é consumido pelo tempo
como as distâncias submissas ao espaço
os caminhos consumidos pelo andar
as sandálias testemunham caminhadas.

As noites, as estrelas e as trilhas
todas ao mesmo tempo submissas
às sandálias perfumadas de orvalho
testemunhas derradeiras do caminho.

Andar.

E o Verbo andando andou além do tempo
as distâncias submissas às sandálias
testemunhas derradeiras do perfume
do orvalho consumido no caminho.

E a distância das noites foi de um raio
quando a estrela foi a trilha no espaço
da distância entre o perfume e o orvalho
quando o tempo consumia o próprio tempo.

As sandálias submissas consumidas
e a distância derradeira consumada
à luz da estrela trilha e submissa
ao Verbo de orvalho e perfume conjugados
quando o tempo não foi mais que testemunha
quando o espaço não foi mais que sua distância
o tempo foi a distância entre as noites
testemunhas do perfume do orvalho.

Por
Geraldo Vasconcelos
Recife-PE, 12.XII.06

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A saudade e a dor da morte e da partida

Para os que sabem sofrer por amor a Deus a saudade que nos ofertam os que não perto estão é grande presente e a serenidade dos que a sentem é gratidão. A perda é sempre um tanto morte; é costume dizer que os que nos cercam “fazem parte de nossas vidas”, da vida, seja toda ou seja parte, perder é sempre morte, e então que se um amado parte morremos um pouco nós. A dor da perda é egoísta e por isso muito humana. Não choramos na verdade pelo outro, mas pelo outro não estar conosco. As lágrimas nos pesam e vencem nossas consciências, nosso raso entendimento dos desígnios divinos. Queremos o outro que faz parte de nossa vida, queremos o outro que é nossa parte. Melhor seria compreendermos os caminhos que seguimos em sua completude e não precisarmos sofrer (alto estado seria esse de perfeição), mas o natural é que sejamos fracos, a saudade, então, que nos aperta o coração, essa nossa pequena morte, soframos pela Vida, por Nosso Redentor.

Essa mensagem dedico a meus tios e meu avô.
Réquiem aetérnam dona eis, Dómine: et lux perpétua lúceat eis.

Por
Gustavo V. de Andrade